Algum santo descuidado, negligente e distraído
Esqueceu abertos os portões do Paraíso
E escapou esse anjo belo e sem juízo
Os anjos são assim: displicentes e ferinos
Nessa manhã de inverno, mais clara, mais bonita
Ela vem descendo a rua flutuando em seu vestido
Em panos verdes e amarelos nesse vento atrevido
Um céu azul de estrelas em seu colo colorido
Por onde passa colhe olhares de vampiro
Pisando passos singulares, decididos
Vestida em asas de desejos escondidos
Os anjos são assim: misteriosos, destemidos
E eu de joelhos, arrasado e ferido
Suando o meu desejo, amargo e aflito
E ela indiferente, pêlos, asas e vestido
Os anjos são assim: meio cruéis e atrevidos
O sol nascente atravessando o vestido
Transparente, comovente, patriota e indecente
Ah, se eu pudesse desvestia as tuas asas
Te arrancava essa bandeira e te levava pra casa
Eu te despia desse ar desconfiado
Te explicava bem de perto toda a minha tara
Te ensinava o meu desejo, te explicava com um beijo
Asas, pêlos, pele e gemidos arrepiados
Eu de joelhos, escandaloso, depravado, desatinado
Suando o seu desejo delicioso, religioso, apaixonado
Você meio indecente e aquela pinta no seu colo
Me chamando do decote até discreto do vestido
Esse sorriso assim contido
Os anjos são assim: todos safados, pervertidos
Os anjos são assim: displicentes e ferinos
Os anjos são assim: misteriosos, destemidos
Os anjos são assim
Safados, tarados, desconfiados, pervertidos, mal intencionados
Mas no fundo são apaixonados