Ainda Lisboa sonha e dorme a sonho solto
E o luar passeia envolto
No seu manto de mil estrelas
A Madragoa, já toda ela se agita
Airosa, fresca, bonita
Num bailado de chinelas
Ainda o galo não canta o seu bom dia
Já o meu bairro á porfia
Trabalha de que maneira
É um regalo ver cortejos de varinas
Descendo a Rua das Trinas
A caminho da Ribeira
Madragoa, chinela no pé
Jeito de maré, p? ra cá e p? ra lá
Madragoa, canastra á cabeça
Ligeira na pressa que a vida lhe dá
Madragoa, festiva gaivota
Que grita na lota, que canta e apregoa
Madragoa, salgada e ladina
Vistosa varina, cartaz de Lisboa
A Madragoa que canta desde menina
Cantigas que o mar ensina
Com o mar dança também
Doa a quem doa, é dos bairros a rainha
E a coisa mais alfacinha
De quantas Lisboa tem
E se abençoa a fé dos seus monumentos
Pois igrejas e conventos
Dão-lhe fé e caridade
Á Madragoa não falta desde criança
Toda a virtude da esperança
Que é a esperança da cidade