Perguntei ao preto velho
Por que choras, meu herói?
Preto velho respondeu
É o meu coração que dói
Eu já fui bom candeeiro
Fui carreiro e fui peão
Já derrubei muito mato
E já lavrei muito chão
Com carinho carreguei
Os filhos do meu patrão
Em troca do que eu fiz
Só recebi ingratidão
Perguntei ao preto velho
Por que choras, meu herói?
Preto velho respondeu
É o meu coração que dói
Sempre chamei de senhor
Quem me tratou a chicote
Livrei o patrão de cobra
Na hora de dar o bote
Eu sempre fui a madeira
E o patrão foi o serrote
Sofri mais do que boi velho
Com a canga no cangote
Perguntei ao preto velho
Por que choras, meu herói?
Preto velho respondeu
É o meu coração que dói
Da terra tirei o ouro
E o patrão fez seu anel
Mas agora estou velho
E o meu patrão mais cruel
Está me mandando embora
Vou viver de déu em déu
O que me resta é esperar
A recompensa do céu
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)