Olhei pro mar, pra não me perder de vista
E vi uma onda solitária, correndo sem quebrar
Como se fosse ela uma surfista
A onda olhou pra mim, me convidou jogando a sua crista
Abrindo os braços como ninguém abre
E eu que não sou Cristo, mas entendo de milagre
Fui andando sobre as águas
do jeito que só quem conhece sabe
Acorde num domingo, tome seu café
Pegue a sua prancha, tome a benção à mãe
Reze com fé e vai pro mar
E vai pro mar!
Solitário Surfista
Mar doce lar, vasto e profundo
mais vasto é o meu coração
Que não cabe nesse mundo e precisa transbordar
Navegar não é preciso, é preciso surfar
Nada parado, tudo em movimento
O chão é a parede e é o teto ao mesmo tempo
A parede desabando e eu lá dentro
acelero e acelera o batimento
Tanto bate até que fura, água mole em pedra dura
Cada louco tem a sua loucura
Eu viajo por isso, quase sempre sem visto
A sereia me chama, eu não resisto
Sei que cada feiticeira tem a sua maneira de transformar
Uma laje de pedra em ouro maciço, parece feitiço
A sereia me chama, eu viajo por isso
Solitário Surfista
Acorde num domingo, tome seu café
Pegue a sua prancha, tome a benção à mãe
Reze com fé e vai pro mar
E vai pro mar!
Solitário Surfista
Cheguei na praia, olhei pro mar, entrei no mar
Entrei no mar, olhei pra onda, entrei na onda
Entrei na onda e fiz a onda até a areia
Entrei na onda que corre na minha aldeia
A minha onda não é uma onda qualquer
Da minha onda eu saio de cabeça feita
E na areia uma sereia com pernas de mulher
Mais perfeita do que a onda mais perfeita
Adivinhava o meu futuro com os seus óculos escuros
Me filmando nas esquerdas e direitas
Cheguei na areia e a sereia entrou no mar
E só de onda eu me deitei onde ela deita
Tubarão em pele de cordeiro, um ataque de surpresa
Predador virando presa
uma sereia com pernas de mulher
Perfeição ou perversão da natureza?
Solitário Surfista (...)