A vocês que estão me ouvindo uma história eu vou contar
Do que aconteceu comigo no estado do Paraná
Fui nascido e fui criado no meio deste sertão
Canto moda
Canto verso
Mal toco violão
Mas quando eu fui pro Paraná
Minha avó mandou levar um burrico alazão
Meu neto leve este burro
Pra enfrentar o serviço bruto no meio da plantação
Paraná ainda deserto de puro mato fechado
Arrumei um servicinho num lugar recanteado
Era longe da cidade e longe da população
Era mais de 12 quilômetros da cidade de campo mourão
Meu burrico ainda era chucro
Fui ensinando a trabalhar, ficou mestre no serviço
Pois só faltava falar
Pra pega o mestiço arisco no meio do matagá
Montado naquele burro não precisava chicotear
Era só bambear a rédea do bicho
Pega no rabo do mestiço e derrubar
Um dia de manhã cedo o patrão veio me visitar
Chego pra mim e disse
Hoje é aniversário da cidade tem muita festa por lá
Tem corrida de animal í é mais de 500 pau
Pra quem conseguir ganhar
Eu peguei o meu burrico, saí pela estrada afora
Cheguei em campo mourão em menos de meia hora
Quando eu ia chegando
Ouvi o alto falante anunciar
Meus senhores minhas senhoras a corrida vai começar
Enconstei o meu burrico na pista toda lotada
O povo queria vê o animal atravessar a linha de chegada
Os peões que ali estavam de mim déram risada
De ver o casco do meu burro
Com a ponta toda rachada um falava para o outro
Num gesto muito engraçado
Será que ele vai correr neste burrico alejado
E quando deram o apito quando deram a largada
Meu burro arranco na frente
Parecia que estava endiabrado
Cheguei 100 metros na frente do segundo colocado
O povo me aplaudiu e apertou a minha
Em quem nós não acreditava é quem foi o campeão
Quando eu vinha voltando bem tranquilo e sossegado
Montado no meu burro no bolso eu trazia um trocado
Não sabia que naquela região
Comandante tenente delegado
Procurava urgentemente um famoso ladrão de gado
Por mim passou um automóvel
Na frente ficou parado
Desceu um cidadão bem vestido um tenente do soldado
Aquele cidadão bem vestido dizia parecia que era verdade
Que eu havia roubado aquele burro de sua propriedade
O sargento foi me algemando me levando fechado
Quando chegou na delegacia me entregou pro delegado
E disse assim deste jeito, dando o caso por encerrado
Acabamos de prender o famoso ladrão de gado
30 Dias fiquei preso, 30 dias amargurado
Pagando sem dever e rezando sem ter pecado
30 Dias esperei meu julgamento
Quando meu julgamento chegou, era grande a multidão
Era como se fosse muzambinho em sua festa de peão
Todo mundo queria conhecer aquele famoso ladrão
Quando eu entrei no fórum acompanhado de 2 soldados
Vi aquele cidadão bem vestido com seus 2 advogados
Ele tocava a questão pra frente
Pra que eu fosse condenado, a 100 anos de prisão
Eu ia morre fechado
Pedi licença pro juíz pra que eu pudesse falar
Que aquele burro era meu
E pra todo mundo eu podia provar
O promotor bateu bateu na mesa
E assim respondeu de lá
Se não prova que este burro é seu
Tu vai morrer na cadeia e ninguém mais vai te tirar
O juíz me deu uma chance
Trazendo o burro no meio da multidão
Amarrado no cabresto e entregou nas minhas mãos
Eu estava desesperado mas não perdi a minha fé
Pedi pro meu burro deita, meu burro deitou
Pedi pro meu burro levantar meu burro ficou de pé
Pedi pro meu burro morder
Em quem fosse o ladrão de gado
Meu burro parece que riu, deu um tremendo rinchado
Foi morder no cidadão que estava tranquilo e folgadão
Com seus 2 advogados
O cidadão se assustou, ficaram admirados
Por eu provar que o burro era meu e por ser tão ensinado
Alí eu fui absolvido e o cidadão
Foi condenado à 100 anos de prisão
Eu acho que ainda está fechado
E o juiz disse ao povão
Esse caboclo do sertão
Fez do seu burrão, o seu maior advogado!