Milonga
O índio pra ser gaudério tem que ter a vida aberta
No momento do perigo dá um jeitinho e não se aperta
Nada de pago em pago e não tem morada certa
O Rio Grande é tua cama e o luar tua coberta.
Sempre tem uma chinoca para lhe fazer afago
E o que não deixa levar o viver de uma índio vago
São as coisas de antanho que no pensamento trago
Carinho, mulher e gaita e o encanto do meu pago.
Para afugentar a saudade a minha idéia eu destampo
E saio longe de mim, num cerro alto me acampo
Solito dentro da noite contemplando os pirilampos
Que brincam de iluminar o pano verde do campo
Sou assim como o minuano gaudério por excelência
E na invernada dos anos vai morrendo a resistência
E na tropeada da vida não maltrato minha consciência
Quero morrer com a honra de gaudério da querência.