Faz favor carro de boi
De passar devagarinho
Pra meu lápis divagando
Escrever ditosa estória.
Sua voz é tão saudosa,
Traz seqüências não menos saudosas
Desfilando na memória.
Gabriel nego carreiro
Acordou Zé Candieiro,
Levanta Zé, junta a boiada,
Traz Bilontra e Dengoso,
Pachola, Chibante, Frajola e Garboso
E a guia Samba e Congada.
Vai o carro pela estrada,
Com sua voz oitavada,
Enchendo serras e grotões.
De pé no cabeçalho,
Gabriel negro grisalho
Trina as cordas dos pulmões
Meu Deus quanta harmonia
Tanta estória se fundia
Tanta coisa irmanada,
O negro e o carro cantando
A boiada ia pisando
No compasso da toada.
A voz do carro põe em festa
A solidão da floresta
E assusta as maracanãs
Que aos verdes bandos voando
Mil flores vão derrubando
Dos vermelhos suinãs.
Volta o carro à fazenda
Chega ao fim a minha lenda.
O meu sonho terminou.
Esses versos que eu colhi
A saudade fez cair
De um carro que passou.