Eu vou dançar, vou dançar,
E eu vou dançar no forró,
Lá eu não vou dançar só,
Que eu quero arrumar meu par.
(Vou dançar, vou dançar)
Eu vou dançar, vou dançar,
Eu vou dançar no forró,
Mas lá não vou dançar só,
Que eu vou arrumar meu par.
Quando eu tinha quinze anos,
Eu era meio abestado,
Só vivia no sertão,
Trabalhando de alugado,
Meu caderno era a roça,
Minha caneta o machado.
(Vou dançar, vou dançar)
Lá eu era amatutado,
Para o lado de namoro,
Quando eu via uma mulher,
Eu dizia um desaforo,
As moças do meu lugar,
Só me chamava ovo goro.
(Vou dançar, vou dançar)
Para o lado de namoro,
Eu era cheio de pantim,
Se eu avistasse um casal,
Namorar perto de mim,
Ficava igual a barata,
Só botando gosto ruim.
(Vou dançar, vou dançar)
Ninguém gostava de mim,
Que além de ser feio demais,
Se eu encostasse numa moça,
Atrás de ganhar cartaz,
Essa moça dizia assim:
-Saia daqui satanás.
(Vou dançar, vou dançar)
Um dia eu disse aos meus pais:
-Hoje ninguém me empata,
Que vai haver uma festa,
Lá no clube do pirata,
Hoje a noite eu vou para lá,
Ver se arrumo uma gata.
(Vou dançar, vou dançar)
Ai peguei uma gravata,
E amarrei no gogó,
Vesti uma calça velha,
Colada no mocotó,
E cheguei lá parecendo,
O Judas de palito.
(vou dançar, vou dançar)
Quando cheguei no forró,
O porteiro saiu fora,
O dono da casa disse:
-Valei-me nossa senhora,
Meu povo vamô rezar,
Que o diabo chegou agora.
(Vou dançar, vou dançar)
Gritou alto uma senhora:
-Meu Jesus quem é aquele,
Feio, sujo e mal trajado,
Já tô é com medo dele,
Se aquilo não for o cão,
Mas veio mandado por ele.
(Vou dançar, vou dançar)
Correu ela, correu ele,
Foi grande a revolução,
Uns entrando, outros saindo,
Para fora do salão,
E eu tomando cachaça,
Escorado no balcão,
(Vou dançar, vou dançar)
Depois da revolução,
Eu disse: acabou-se o drama.
O sanfoneiro voltou,
Continuou o programa,
E eu disse nesse momento:
Vô arrumar minha dama.
(Vou dançar, vou dançar)
Cheguei perto de uma dama,
Comecei com sururu,
Ela disse mesmo assim:
Saia daqui papangú,
Deus me livre eu dançar,
Com um bicho feio que nem tu.
(Vou dançar, vou dançar)
Eu disse: eu estou de lundu,
Essa noite é que eu brigo,
Será que é um azar,
Ou um grande castigo,
Que essas moças daqui,
Não querem dançar comigo.
(Vou dançar, vou dançar)
Parece que foi um castigo,
Que uma moça apareceu,
Fina igual a uma vara,
E preta da cor de breu,
O nariz dava meio palmo,
E os beiço veio um pneu.
(Vou dançar, vou dançar)
Sabe o que aconteceu,
Me agarrei com essa infeliz,
Comecei a dançar com ela,
Dizendo assim: sou feliz,
Fui chupar na língua dela,
Errei chupei no nariz.
(Vou dançar, vou dançar)
Meu povo ela só me quis,
Vou dizer o resultado,
Ela tinha um olho fundo,
E o outro estourado,
Cada peito dava um quilo,
E a bunda torta pra um lado.
(Vou dançar, vou dançar)
Mais eu todo amatutado,
Peguei naquele setor,
Ela disse: o que tu queres,
Diga logo meu amor,
E eu disse: quero botar,
E é óleo no seu motor.
(Vou dançar, vou dançar)
Ela disse: meu amor,
A coisa então vai ser agora,
Eu vou tirar minha roupa,
E tu fica sem demora,
Saí nu no meio do povo,
Com os documentos de fora.
(vou dançar, vou dançar)
Barruei numa senhora,
Já ia todo pelado,
Essa mulher disse assim:
De onde veio esse tarado,
Nuzinho no meio da gente,
Com esse troçinho pendurado.
(Vou dançar, vou dançar)
Aí chegou um soldado,
Passou uns vinte minutos,
Só me dando cacetada,
Apanhei que só um bruto,
E desse dia pra cá,
Eu deixei de ser matuto.
(Vou dançar, vou dançar)
Agora eu não sou mais matuto,
Já saí daquela aldeia,
Depois daquele dia,
Daquela surra de pêia,
Fiquei com raiva de festa,
De matuto e mulher feia.
Eu vou dançar, vou dançar,
Eu vou dançar um forró,
Mas lá não vou dançar só,
Que vou arrumar meu par,
Eu vou dançar vou dançar.