Mundo cinza, não tem vida, nem parece que já foi um dia
No lugar do verde se desenha uma paisagem sombria
Não tem flores, não tem fruto, tudo que nasce morre
O ar contaminado, nem verme se desenvolve
É difícil respirar o clima é sujo e abafado
Um calor intenso, à beira do insuportável
Não chove não tem água tenho sede
Parece que a terra mudou agora hostiliza a gente
Tempestades e poeira não dão trégua
Das quatro estações nenhuma mais se manifesta
O cinza já foi mato o verde predominava
Este rasgo já foi rio, antes corria água
O solo é sofrido até aonde o olho alcança
Natureza viva, só mesmo na lembrança
Há tempos que não ouço os pássaros cantando
Mudança, drástica demais pro ser humano
Dos que restam vivem agora em condições de igualdade
Ouro e prata nada valem, são excesso de bagagem
O luxo e o lixo tudo no mesmo saco
Diamantes e rubis não valem um tostão furado
Hoje é outro, o sonho de consumo
Quem diria, água e comida pra viver por mais um dia
Isso é tudo que nos resta, a fome e o instinto
Não espere lealdade vindo de um animal faminto
[refrão]
E o rio não corre mais, secou
Sem ar pra respirar sufocou
O que sustentava a vida agora mata
Cobiça desmata e semeia a desgraça
Nada noticiado no clarim, tudo lindo na minha tela slim
Solidariedade de touch screen, ecos da destruição
”plim, plim”
E fez-se a luz
Alucinação pra que me apegar ao mito da criação
O ar queima escorre o pus
A cruz era coletiva foi cada um com a sua cruz
O mesmo para os fracos e para os fortes
Mutilações mutações e mortes
Contaminados água, ar, almas
Foram-se otimismos ficaram os traumas
Revolta não cabe lucidez arredia
Preciso chegar vivo ao fim do dia
Respiro, aspiro monóxido, pulmão explode tudo tóxico
Algo se move humano ou não
Lamento pra me manter preciso do alimento
Insaciáveis a todo custo deserdados
Pela mãe pelo motivo justo
Desvario nada certo escreveres tortos consumo
E cio sigo tropeçando em corpos
Só a fome me inflama mergulhado
Em rios de sangue e lama
[refrão]
E o rio não corre mais, secou
Sem ar pra respirar sufocou
O que sustentava a vida agora mata
Cobiça desmata e semeia a desgraça
O mundo jaz nas mãos da monsanto
Alguém adulterou a carne e agora só resta o pranto
Pra quem eliminou um rio tudo vale
Crime ambiental ou acidente banal, me fale
A propina silencia, mas não cessa a chacina
Genocídio por cifrões já levou milhões
Gases tóxicos na atmosfera
Morte iminente não impede a ganância da fera
Mundo doente cti, morte na sala de espera
Dependência financeira movimenta a esteira na feira
A produção excedente excelente pro bolso
Não eliminou e até aumentou a fome do povo
A ganância falou alto o deserto é preço pago
Precarização da vida é o que nos resta é fato
Arremedo de existência, já não resta resistência
Puro instinto é o que define a essência
Lei do mais forte na selva de pedra
Escassez é o legado de quem matou a relva
Mundo inóspito onde o ócio é a espera do fim
Terra sem esperança, tudo termina assim?