Intro: Poema "Blue Bird" de Charles Bukowski
Há um pássaro azul no meu peito que quer sair
Mas eu sou duro demais pra ele
Eu digo, fica aí, não vou deixar ninguém te ver
Há um pássaro azul no meu peito que quer sair
Mas eu meto uísque nele e dou um trago no meu cigarro
E as putas e os garçons e os balconistas dos mercados
Nunca percebem que ele está aqui dentro
Há um pássaro azul no meu peito que quer sair
Mas eu sou duro demais pra ele
Eu digo: fica quieto, você quer zoar comigo?
Quer foder com meu trabalho?
Há um pássaro azul no meu peito que quer sair
Mas eu sou esperto demais
Só o deixo sair à noite, às vezes
Enquanto todo mundo está dormindo
Eu digo: eu sei que você está aí não fique chateado
Então o ponho de volta, mas ele canta um pouco
Aqui dentro, não o deixei realmente morrer
E dormimos juntos assim no nosso pacto secreto
E isso é o bastante pra fazer um homem chorar
Mas eu não choro, você chora?
Aí velho caderno, olha só quem voltou
Sou só eu escrevendo pra ver se o tempo passou
São umas três da matina e eu ainda tô aqui
Esvaziando minha mente pra ver se consigo dormir
Ultimamente tá foda, cê sabe, mais que o normal
Na minha mente o mundo roda, cê sabe, um temporal
Mas, mantenho a fachada, escrever é minha cura
Os rabiscos aqui me protegem da loucura
Me escondo nas palavras, então tiro a máscara
De sem sentimentos, aquela mentira clássica
Que, tu sabe como é, me protege de tudo
Sei lá, tu me conhece, nunca me dei bem com o mundo
Os fantasmas do passado que sempre me perseguem
Me sinto tipo Adão, fora do Jardim do Éden
Mas engulo a seco a raiva, o ódio e a dor também
E se alguém perguntar, digo: firmão, tá tudo bem
Você sabe o meu nome, mas não sabe quem eu sou
Me conhece só por fora, Desconhece a minha dor
Dos meus olhos sabe a cor, desconhece o que eu vi
Não sabe por onde andei pra chegar até aqui
No fim a vida é dura, é assim e não tem jeito
Cada um conhece bem a dor que carrega no peito
Se nasci um bom sujeito, não lembro, não sei
Pra paz não levo jeito, muita treta já causei
Só que isso cansa, só que isso esgota
Nesse mundo imundo cê tem que ter olho na costa
Seguir o teu caminho, mesmo pisando em espinhos
Entender que é assim: tu nasce e morre sozinho
Quem dizia ser amigo arregou na hora da luta
Quem jurava amor eterno era só mais uma puta
Quem falava estar comigo em qualquer dificuldade
Desapareceu na primeira oportunidade
E ainda me perguntam porque eu sou assim
E ainda me perguntam porque só confio em mim
Mas engulo a seco a raiva, o ódio e a dor também
E se alguém perguntar? digo: firmão, tá tudo bem
Você sabe o meu nome, mas não sabe quem eu sou
Me conhece só por fora, desconhece minha dor
Dos meus olhos sabe a cor, desconhece o que eu vi
Não sabe por onde andei pra chegar até aqui
Calma na alma? pera, não é bem assim
Minha alma tem tempestade, e isso nunca tem fim
Fazer tudo sozinho já virou até um vício
Narcisismo? É, o pior é que eu gosto disso
Eles são água e eu sou óleo, tô num mundo paralelo
Pessoas vem, pessoas vão, e eu aqui só observo
Acompanho com os olhos esse ritmo constante
Mentes vazias querendo ser interessantes
Mudei o padrão, blindei meu coração
Entre falso ou verdadeiro escolhi a solidão
Prefiro os meus fones, o ferro nunca é ingrato
Onde babaca é estrela eu prefiro o anonimato
O dia amanhece, com a máscara encaro o mundo
E isso me afasta de gente sem conteúdo
Então engulo raiva, o ódio e a dor também
E se alguém me perguntar? digo firmão, tá tudo bem
Você sabe o meu nome, mas não sabe quem eu sou
Me conhece só por fora, desconhece a minha dor
Dos meus olhos sabe a cor, desconhece o que eu vi
Não sabe por onde andei pra chegar até aqui