Sempre que eu canto chove
Qual será a relação
Do meu canto com a água
Minha voz na imensidão?
Sempre que meu canto escorre
No quintal turvo a visão
Rio baixo e deságuo
Choro seco no ser-tão
Chão rachado, rosto inteiro
A repressa, a prisão
Evapora, deixa marcas
Barro o peito em suspensão
Há de viver e ser
Um ser intenso
Rio em seu curso busca o mar
Pra ser imenso
Há de chover
Um canto cheio
Para dar corpo e atravessar
Profundo leito
Sempre que eu canto chove
Qual será a relação?
Calo, ouço e me afogo
Gota a gota na canção
Se anoitece no terreiro
Pleno dia escuridão
Céu da boca se anuveia
Me desato grão em grão