Era uma noite escura, sem lua, segunda-feira
Peguei a viola, como sempre faço e fui pra rua
Desliguei a chave de contato
Que mantém acesa a chama
E acendi as luzes
Dentro do meu pensamento
E foi neste momento
que a inspiração bateu à porta
E eu, como quem não soubesse quem era
Pedi que entrasse
Sentou-se ao meu lado como sempre
E pediu-me com seus olhos
Permissão pra vasculhar minhas lembranças
E foi então,
que fui parar sem perceber na infância
Num tempo em que pra se brincar
Usava-se a imaginação
Quando ainda havia nos olhares
Os anjos da inocência
E foi, então, que perguntei ao coração:
Onde estão essas crianças que corriam por aí
Onde estão as borboletas
que pousavam em meu jardim
Onde estão essas meninas
que brincavam de bonecas
Onde estão esses meninos
que pedalavam suas bicicletas
Onde estão os trens e os trilhos
e as velhas canções e as serenatas
Onde estão todas as pipas, petecas,
piões, carrinhos de lata
Onde estão as tardes de domingo,
à espera do filme, na fila do cinema
Hoje a vida faz outros caminhos