Eu vi pegadas no meu quarto de manhã
Achei um fio de cabelo enrolado
Numa presilha no bolso do meu casaco
Eu não sabia o que era então amar
Não vejo ondas do teu mar para pular
Eu lembro a voz tão rouca no meu cobertor
Lembro o roçar de pés dizendo que onde eu fosse
Eu lavaria uma lua no olhar
Eu vi estrelas no teto daquela boca
E uma dança que eu não sei pronunciar
São tantas farpas e um monte de falas loucas
No colorir do céu a me relampear
Já escrevi na minha pele as tuas mãos
Eu tenho cartas queimadas por esse ar
Fico tentando fazer parar de pulsar
As tantas vezes em que o sim me disse não
Deixei meus versos tateando o teu pescoço
Fingi que nunca choraria por amor
Se existe um Deus, ele me viu cantar de dor
Se existem vários, se esconderam pra não ver
Vi sangue puro escorrer pelos meus braços
E uma serpente bambeando um bambolê
Na minha perna já senti capim comer
Ao som que os gatos fizeram no meu telhado
Já fiz o amor de fato acontecer
Um ferro quente engomou meu coração
Foi tanta brasa de abraço incendiado
Caiu em mim faísca de um amor passado
Que de pé junto eu falei que nunca mais
Já disse que nunca faria um juramento
Depois jurei por tudo que é mais sagrado
Que eu não teria abstinência de carinho
E de repente me deitei em um espinho
Já fiz o amor em mim acontecer