O rancho recém acorda
Com bocejos de fumaça
Espreguiçamdo as janelas
De olhos claros sem vidraças
Cendendo sóis em brasas
Num cerne de tarumã
Minando a negra cambona
E sua alma de picumã.
Um velho de calças largas
E sonhos velhos demais
Assopra um vento do peito
Nos sabugos e jornais
Vai buscar água pro mate
Enquanto o fogo clareia
A sombra de um passado
Que pelo rancho passeia.
Num poço de alma aberta
Em silêncio distraído
Um balde puxado a corda
Chora a mágoa entristecido
Depois cai no seu abismo
Até a água do fundo
Talvez por isso que chore
Por ser pequeno seu mundo
Na alta quincha do rancho
Entre arame e santa fé
Um galo fino de lata
Aguenta firme de pé
Não canta nem madrugueia
Nem bate asas por conta
Apenas diz onde é norte
Pro lado que o bico aponta.
As laranjeiras floridas
Esperam o doce do outono
Pra não serem tão amargas
Feito as lembranças do dono
Que o tempo sem ter paciência
Ajustou pra morar só
Num rancho com alma de barro
Plantado num cafundó.
Quem olha um rancho de longe
Pela estrada de quem passa
Enxerga o galo sem asas
E um branco fio de fumaça
Não chega pra tomar um mate
Nem pra matar sua sede
E não sabe que este rancho
Tem vida além das paredes.