É muita navalha na minha carne, é muita espada pra me furar...
Muitas lambada nas minhas costas é muita gente pra me surrar...
É muita pedra no meu caminho, é muito espinho pra eu pisar...
É muita paixão e muito desprezo...
Não há coração que possa agüentar...
É muita serra pra eu subir, é muita água pra me afogar...
Muito martelo pra me bater, muito serrote pra me serrar...
É muita luta pra eu sozinho é muita conta pra eu pagar...
É muito zape em cima de um az...
Mas a terra treme quando eu trucar...
Eu não caio do cavalo nem do burro e nem do galho
Ganho dinheiro cantando a viola é meu trabalho
No lugar onde tem seca eu de sede lá não caio
Levanto de madrugada e bebo pingo de orvalho
Chora viola
Eu ando de pé no chão piso por cima da brasa
Quem não gosta de viola que não ponha o pé lá em casa
A viola está tinindo cantador tá de pé
Quem não gosta de viola brasileiro bom não é
Mundo velho está perdido
Já não endereita mais
Os filhos de hoje em dia já não obedece os pais
É o começo do fim
Já estou vendo sinais
Metade da mocidade estão virando marginais
É um bando de serpente
Os mocinhos vão na frente, as mocinhas vão atrás...
Meu mestre é deus nas alturas
O mundo é meu colégio
Eu sei criticar cantando: deus me deu o privilégio
Mato a cobra e mostro o pau
Eu mato e não apedrejo
Dragão de sete cabeças também mato e não alejo
Estamos no fim do respeito
Mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo...
Gavião da minha foice não pega pinto
Também a mão de pilão não joga peteca
O cabo da minha enxada não tem divisa
As meninas dos meus olhos não tem boneca.
A bala do meu revólver não tem açucar
No cano da carabina não vai torneira
A porca do parafuso nunca deu cria
Na casa do joão de barro não tem goteira.
Cachaça não dá rasteira, derruba gente
A lingua da fechadura não faz fofoca
Pra fazer este pagode não foi brinquedo
Eu me virei do avesso e não sou pipoca.