Só tu conheces bem a minha alma
Ninguém te leva a palma, dentro dela
Dás-me, amor, o silêncio que me acalma
E pões meus gritos d’alma à janela
Amante, das 'strelas e da noite
Pernoite é o meu peito, onde acordado
Te ergues e não há ninguém que afoite
O que dizes em mim, meu adorado
Eu sou essa ternura que me dás e se mistura
Nesse olhar de tristeza que tem a sua beleza
Sou também a palavra que na minha voz é escrava
Sou a saudade atroz de quando juntos, somos sós
Eu sou, somente essa solidão
Só por ti, na multidão, caminho, incerto e errante
Pois tu, ó meu perfeito pecado
Amor alegre e chorado, és meu fado, amigo e amante
Os versos, com que beijas minha boca
São rosas de toucar avermelhadas
Se os canto, saio de mim como louca
E estas palavras choram-se cantadas
Não posso mais calar esta loucura
Porventura o destino quer-me assim
Andando a vida inteira à procura
De ti, que vives só e para mim