Olha o rancho entrudo, a escola de samba
Olha o velho sisudo que se anima e descamba
Esquecendo da asma e do seu reumatismo
Pra sair de fantasma no bloco do abismo
Olha o bloco de sujos onde há a meretriz
Faz promessa o marujo de fazê-la feliz
Olha a banda, olha a virgem num pedaço de escuro
Já sentindo vertigem na beirada do muro
E vamos nós outra vez
De viva voz contra as leis
Que esmagam sonhos quase reais
E a multidão cada vez mais querendo muitos carnavais
Olha o salto, o assalto, o suor e a cerveja
Olha fuco beato escondido na igreja
Esta gente enganada esse samba de enredo
É a dor mascarada de um falso brinquedo
Diz o rei da alegria: "Ser feliz é uma lei"
Pena que, hoje em dia, ninguém mais crê no rei
E lá vai Mocidade e lá vem a Portela
É o caos na cidade, é o frevo, a favela
E vamos nós outra vez
De viva voz contra as leis
Que esmagam sonhos quase reais
E a multidão cada vez mais querendo muitos carnavais
É a banda bandalha
que se vai debandando
Mestre-sala e mortalha
já se desanimando
Olha aí quarta-feira
Olha a cinza na testa
E o que importa a bandeira
já não dança, protesta
Olha a boca amargando
Olha o charme de ouro
Vem alguém carregando
um pandeiro sem couro
Já não há quem encarne
o pecado mortal
Foi a festa da carne
foi o carnaval