Video Manifesto Anti Dantas de Mario Viegas 2024 Lyrics Lyrics

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Video Manifesto Anti Dantas » Mario Viegas Letra

INICIOMario ViegasManifesto Anti Dantas

Mario Viegas - Manifesto Anti Dantas Lyrics


Basta pum basta!
Uma geração que consente
Deixar-se representar por um Dantas
É uma geração que nunca o foi
É um coio d'indigentes, d'indignos e
De cegos É uma resma de charlatães e de vendidos
E só pode parir
Abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina
Saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever
Que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia
Que até faz sonetos com ligas de
Duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a
Soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre
D'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria
Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas
Agradeceu!
O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio
Pra se ser pantomineiro, basta ser-se
Pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever
Como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem
Artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as
Políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta
Ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas!
Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem
Sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita
Pra fora o que a gente já sabe o
Que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é
Pim-pam-pum
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não
Sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas?
Eu vou-lhes contar

A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com
As quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana
Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois
Ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não
Estragaram pra português, quando subiu o pano também não
Fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois
De meio acto é que descobri que era de madrugada porque o
Bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!
A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não
Vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver
Ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do
Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele
Trazia calções vermelhos
A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras
Dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no
Quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito
Despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira
lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as
Grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da
Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu
O célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa
A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente
Nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira
Soror Inês
Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas
Todas iguais e de candeias acesas
Menos uma que usa óculos
E bengala e ainda toda curvada
Prá frente o que quer dizer que é
A abadessa
E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya
Se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa
da Tia Felicidade da vizinha do lado
E reparando nos dois vultos
Interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa
falta de corda... Quem está aí? ... E de candeias apagadas?
Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a
Abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar
Curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o
Ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que
De repente, batem no portão sem se anunciar nem limpar-se da
Poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que
Quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate
Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe
por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e
Que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela
A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando
Pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles
Oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da
Humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de
Sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e
Mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias
Apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço
d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação
Disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de
Um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em
Menos de meio minuto o que o público já está farto de saber
Que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à
Serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar
Como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve
Mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na
Coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma
Insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as
Expectativas
Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana
Sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido
Foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela
gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia
E pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente
Do que já previamente tinha avisado o público e o pano cai e o
Espectador também cai da paciência abaixo e desata numa
Destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos
Os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele
Êxito teatral do Dantas
A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a
Certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas
Sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e
Exageros sexuais
Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar
Muito com o Alcoforado e há-de ver que ainda apanha uma
Estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das
Maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional
Do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões
mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade
plos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e
Pasta Dantas prós dentes, e graxa Dantas prás botas e
Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas
E Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas
Magnésia
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em
Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o
Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a
Glória do seu pseudónimo Camões
E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu
Haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos
a gastar
Mas julgais que nisto se resume a literatura portuguesa? Não Mil
vezes não!
Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota
Que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota
Do Chianca
E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo
Da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento
insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as
Traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo
Senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês
Sifilítica do Faustino! E as imbecilidades do Sousa Costa!
E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do
desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias
E do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Luta e de
todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E
Todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal
que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de
Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de
Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os
burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o)
Raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem
Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento!
E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais
Das Belas-Arte (s) ! E todas as maquetas do Marquês de Pombal!
E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda
Os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho
os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes
Os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os
Celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os
Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os
Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano
os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os
Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os
Dantas que houver por aí!
E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as
Convicções catitas do homem Cristo Filho!
E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao
Despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo!
Tudo por causa do Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a
Classificação do país mas atrasado da Europa e de todo o
Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio
Dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos
europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos!
Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua
Cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a
Necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de
Asseado!
Morra o Dantas, morra! Pim!

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