Passei meus dias num lugar qualquer
Acabei com a sua ira numa rima
Sem sequer rimar
Há ventos longe daqui
Há histórias mortas
Como essa que você me diz
Desde o início dos tempos
Haja luz
Porque há trevas também
Haja paz
Porque há ódio talvez
Hão de vir novos dias
E lá há de ter novos falsos outonos
Eu acabei com a sua vida
Com um sopro na narina
Eu matei os seus sonhos
Com uma agulha nos seus olhos
Sussurrei no seu ouvido
Palavras que duram mais
Do que antigos sonhos falidos
Dediquei-me aos seus acasos
Destruí todos os laços
Enxuguei o seu suor
Com uma planta sem flor
Me abri contando os fatos
Me escondi entre
Os seus maços de ilusão
Cultivei sua distração
Eu bebi sua saliva
E vendi sua escrita
Eu queimei o livro negro
Mas salvei algum enredo
Que talvez vou precisar
Em outra vida, outro lugar
Eu suguei o teu espírito
Eu lutei contra o destino
Vou te dar o meu escudo
Mas não tente me atacar
Tudo que eu preciso agora
É largar da tua mão
Quem sabe um dia eu te chame
Ou quem sabe não
Já se curou minha cegueira
E eu não quero mais voltar
As paredes do meu quarto
Já pararam de rodar
Que se faça a profecia
Que se torne, a água, cinza
Que se vire contra mim
Que haja paz e amor sem fim
Eis um motivo pra me despertar
Num tempo em que sonhos
Ainda podem voltar
Passei meus dias num lugar qualquer...