O patrão me tirô a alegria
Ao levá minha fia pra ele criá
Prometendo pra meu desengano
Depois de cinco ano torná me entregá
E agora pra lá da portera
Na ingrata pedrera me faiz trabaiá
Carregando uma dor no meu peito
Sem ter o direito pra desabafá
(Conforme o que a vida nos traz
Não dá jeito da gente agüentá
Você que é sofrida demais
Peça à Deus pra sua vida ajudá)
Cada veiz que eu rancava a foinha
Era um dia de menos pra nóis esperá
Pouco a pouco arranjei meu ranchinho
Fartava um poquinho pra ela chegá
E chegô pra trazê alegria
Lá na casa grande aonde agente não vai
O patrão enganô minha fia
Ela nunca sabia que o Jeca é seu pai
(Conforme o que a vida nos traz
Não dá jeito da gente agüentá
Você que é sofrida demais
Peça à Deus pra sua vida ajudá)
A muié fez um tacho de doce
De abóbra madura e no armário guardô
Esperando com muita alegria
Chegá esse dia que nunca chegô
E eu dando risada amarela
Contá a verdade pra ela eu não quis
Proibiro nóis dois de falá
Que era o pai e a mãe dessa moça feliz
(Conforme o que a vida nos traz
Não dá jeito da gente agüentá
Você que é sofrida demais
Peça à Deus pra sua vida ajudá)
Tenho ciúme do beijo e do abraço
Que outro recebe com satisfação
Esse beijo que o pai merecia
Quem tem todo o dia é o ingrato patrão
Mas eu juro pra Virgem Maria
Que a minha agonia ainda vai se acabá
Nem que seja preciso eu morrê
Lá pro nosso ranchinho ela tem que vortá
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)