Minha vida era um palco iluminado
E Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Eu vivia cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barração lá no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
E a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas o nosso chão
Tu pisavas os astros distraída
A mostrar que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
É os gatos miando no porão