MARINHEIRA
Quando for de tardezinha
minha companheira
na beira do rio
lá nas Marinheiras
meus olhos vazios
vão te espiar.
Lembra da lua saindo
por trás da palmeira
o rio é profundo
e a dor traiçoeira
tem dedos macios
pra me pentear.
Nunca matei passarinho
esse é meu segredo
que a água do rio
não pode escutar
viver sem carinho
me mata de medo
eu sei que outro bicho
vai te cobiçar.
Se a tua beleza
adormece mais cedo
eu durmo com medo
de nunca acordar
pois o teu cabelo
me escorre entre os dedos
e a água do rio
vai te carregar.
Acho que foi num domingo
foi no derradeiro
que eu senti no cheiro
nascer meu penar
um cego menino
veio me contar.
Trazendo a felicidade
chegou um veleiro
nas cores mais lindas
deste mundo inteiro
lá do meu terreiro
eu pude avistar.
Uma formosa senhora
de olhar estrangeiro
que o meu sete-estrelo
pretende ofuscar
que luz irradia
arde o seu cabelo
como um pesadelo
a me condenar.
Mudaram meu nome
cortaram minha veia
e eu durmo com medo
de nunca acordar,
pois o teu cabelo
me escorrem entre os dedos
e a água do rio
vai te carregar.