Expedito era um garoto muito rico
Que vivia em Brasília
Afundado em mordomia.
Seu pai foi senador, foi deputado,
Foi nas tetas do Estado
Tudo às custas da União.
Tinha lá sua turminha
E brincadeiras
E gracinhas de auditório de televisão.
Mas de ter tanto e ter tudo
Tava já de saco cheio,
Coisa que muito dinheiro
Mais ajuda a encheção.
Gustavo era bisneto de escravos
E não tinha esses grilos,
Tinha outros não iguais.
Seus pais eram mendigos
Que achavam que era esnobe
Todo dia ter feijão.
Não tinha turminha,
Tinha sonhos, isso tinha,
De não ser mais pobre não.
De comer o pó do mundo
Tava já de saco cheio,
Coisa que pouco dinheiro já ajuda de montão.
Mas o dedo do destino
Atingiu os dois meninos
Lá do céu e aqui no chão.
Um dia, de surpresa
Um anjo, então, virou a mesa
E ao diabo deu a mão.
O pai de Expedito se ferrou, não foi eleito
E por culpa ou por defeito
Gastou muito na eleição.
E o pai de Gustavo
Fez a Sena com outros quatro,
Um tremendo de um cagão.
Expedito, de garoto muito rico
Hoje caça tico-tico,
Rouba fruta e joga pião.
Gustavo já não vai ser bandido,
Estuda e anda bem nutrido.
Já passou a cidadão, a cidadão.
Nem pobre e nem rico
Deus deu a esses dois meninos
Essa história tão sutil.
Mas isso não é o que acontece
Pelas ruas onde crescem
Os meninos do Brasil.