Senhor / Tréguas a meus ais!
Mata-me esta dor / De não vê-la mais
Volve piedoso o teu olhar / Para o meu sofrer
Vê que a padecer / Venho te implorar
Senhor, faze adormecer / Meu peito a doer
Tu que és todo amor! / Tem compaixão
Da minha dor / Pára o coração
Faze-o descansar / Basta de ansiar
Pensar que nunca mais verei / O anjo que adorei
Por quem choro e chorei / E em cujo altar me ajoelhava
E em que em extremos cultuava / E que era tudo quanto amava
E que era tudo quanto amei
Pensar / Em não mais me orvalhar
Não me sacramentar / Nos olhos que adorei
Naqueles olhos que eu magoado / Sobre um leito debruçado
Num suspiro prolongado / Com as minhas mãos fechei
Tão só / O que hei de fazer?
Mais do que gemer / Mais do que gemer
Até que de mim tenhas dó / Volvas teu amor
Teu sagrado amor / Sobre mim Senhor
Em prece, ajoelhado / A sua sepultura
Que lágrimas transuda / Já tenho interrogado
A sepultura é muda / Não quer me responder
Meus Deus, que hei de fazer? / Senhor, meu Deus, que hei de fazer?
Contrito, ajoelhado / Em lágrimas desfeito
Já tenho interrogado / A pedra de seu lado
A pedra friamente / Silêncio só transuda
E impiedosamente muda / Nada diz ao infeliz
Às horas fulgurantes / Das noites palpitantes
A lua macilenta / Tristonha e sonolenta
O azul do firmamento / E a própria solidão
Entendem minhas queixas / E esta dor do coração
Só Tu, Senhor, em calma / Não ouves meus gemidos
Gritando por sua alma / Cansados, languescidos
Em pleno cemitério / Revela-me o mistério
E vem agora me dizer: / O que é viver, o que é morrer?
Senhor / Tréguas a meus ais!
Mata-me esta dor / De não vê-la mais
Volve piedoso o teu olhar / Sobre o meu penar
Vê que a soluçar / Venho te implorar