Mina ligeira, valente, guerreira, pobre periférica
Sabe onde quer chegar e de onde veio não nega!
venceu na vida, contrariou estatística
e hoje honra sua favela
Sua vitória pra alguns é glória
pro sistema é vista como tragédia
E quem a julga pela cara de patricinha
não sabe que é só a cara
não sabe a dor contida em cada linha
E a cada traço, a cada abraço, a cada passo que caminha
Vê a mesma dor no rosto triste da vizinha
Que perdeu o filho pra maldade do distintivo
E reza que não tenha esse fim o último filho vivo
E o menor cresce cada vez mais revoltado e ninguém viu
Rejeitado pela pátria, adotado pelo fuzil
Cotidiano do pobre todo dia é guerra civil
filho bastardo da ingrata pátria mãe nada gentil
Cresceu sem perspectiva, sem esperança
Foi lhe retirado o direito de ser criança
Cria da rua, a própria sorte largado
Desde a barriga da mãe seu destino já tava traçado
Seu fardo? ser analfabeto, preto, pobre, favelado
Seu destino? Amanhecer qualquer dia sem motivo baleado
Se é culpado? Só vão saber depois de ter atirado
Será que ninguém vê o quão evidente é o despreparo?
Despreparação ou foi tudo proposital?
Não importa, já forjaram a notícia pro jornal
Mídia tendenciosa, faz o grave parecer normal
Derramamento de sangue sendo tratado como algo banal
São meros despreparados ou preparados pra matar?
Ou a mera sensação de que da lei estão acima?
é o poder que sobe a cabeça
ou só cumpre as ordens da classe burguesa?
Disso tudo resta uma única certeza
Tanto sangue, tristeza, mágoa, medo, ódio e rancor
Só fazem o sonho do oprimido um dia virar opressor
Segurança e insegurança, o que separa é só um prefixo
onde quem não tem dinheiro aqui é tratado pior que lixo
e mesmo antes de cometer qualquer crime já é sentenciado
Uns de tanto gritar "socorro" em vão
acabam gritando "Assalto"!
[Refrão]
Mas quantas mães ainda vão chorar? Laay
Quantas mães mais? Quantos filhos mais? Gabi Strega
Quantos inocentes ainda vão sangrar? Laay
Sistema cria monstro para o matar Gabi Strega
Ou mesmo se não for monstro
é isso que ele manda sua mídia noticiar! (Todas)
E a dor de uns causa revolta em outros
apetite pra se vingar, sangue no zói e ódio em dobro
Monstro criado, o resultado, a consequência do jogo
Um morre, um cobra, cobrador morre também
um ciclo vicioso!
sangue derramado gera lágrimas de um lado
do outro lucro
Quantas notas, quantas cifras custaram esses lutos?
Quantos sonhos que vão acabar em púlpitos?
Quando o mundo se tornará um pouco mais justo?
Onde quem mais trabalha é quem ganha pouco
Enquanto seu patrão
não para de enriquecer o próprio bolso
Seu suor e 8 horas da sua vida, isso que é roubo!
Como se não fosse suficiente, toma, atola imposto!
Relaxa ainda tá pouco
mais 3 horas de ônibus no sufoco!
Isso pros que tem a sorte de conseguir um emprego
Pros que não tem não vê outra solução
a não ser sentar o dedo!
Porque pro emprego precisa ter experiência
pra ter experiência precisa de emprego
qual que há? Aí vão dizer: "mas quem mandou não estudar"
Mas como que estuda com 10 anos e família pra sustentar?
E o pior, sistema te impede até de trabalhar
Porque vender pipoca no metrô hoje em dia é se arriscar
a apreenderem sua mercadoria e ainda por cima apanhar!
A sociedade rejeita, apedreja, cospe, e massacra
e então o crime vem, ilude, acolhe e abraça!
Assim como a serpente iludiu Eva
o crime age, o bang é doido, a rua é selva!
Quem não vê outra escolha, cai fácil na armadilha
ainda mais triste que o começo, é o fim dessa trilha
Mais dor, mais sangue, mais lágrima essa é a vida!
Tanta injustiça persiste
burguesia rindo o massacre assiste
Em cada beco uma cena triste
é por isso periferia só por de existir, já resiste!
[Refrão]
E o que resta pra mãe é chorar
Quantas mães mais? Quantos filhos mais?
Quantos inocentes ainda vão sangrar?
Sistema cria monstro pra depois o matar
Ou mesmo se não for monstro
é isso que ele manda sua mídia noticiar!