Igual a muitos
Sem profissão definida
Um homem ganhava a vida
No comércio popular
Ele vendia
Bilhetes de loteria
E assim se defendia
Pra família sustentar
Porém o pouco
Dinheirinho que ganhava
Às vezes mal chegava
Pra farmácia custear
Pois seu filhinho
Na humildade de um casebre
Ardia em febre
Com a morte a lhe rondar
("Bilheteiro!
Olha sorte grande
É macaco, é cobra, é pra hoje
Comprem o bilhete
Bilheteiro! ")
Naquele dia
O macaco e a cobra
Foram bilhetes de sobra
Que o coitado não vendeu
Que noite triste
Cheia de dor e de tédio
Não deu pra comprar o remédio
E o seu filho morreu
Mas os bilhetes
Que ficaram encalhados
Foram mesmo premiados
Por capricho do fadário
E o bilheteiro
Que foi feliz num casebre
Deixou de ser pobre alegre
Pra ser triste milionário
Hoje ele chora
Relembrando o filho morto
E maldiz todo o conforto
Que chegou muito atrasado
De nada vale
Esta riqueza maldita
Se ela não ressuscita
O seu filhinho adorado
Hoje ele chora
Relembrando o filho morto
E maldiz todo o conforto
Que chegou muito atrasado
De nada vale
Esta riqueza maldita
Se ela não ressuscita
O seu filhinho adorado