Senti dor muitas vezes na vida
Só mais um neguinho pobre com tendência homicida
Com 5 de idade ser o homem da casa
É como ser um soldado na Faixa de Gaza
Foi mais de um ano devendo colégio particular
Quase faltou o necessário pra poder me alimentar
Minha mãe passando roupa pela madrugada
Só pra me sustentar, sem faltar nada
Só vai faltar dinheiro e emprego
Pra conseguir os dois tem que acordar bem cedo
É louco ter que guardar água em barril
E torcer pra chover, a escadaria vira rio
De tempos em tempos, muda o endereço
Ainda tive sorte, e nem sei se eu mereço
Só mais um neguinho de origem pobre
Sonhando com o ouro, mas vivendo com o cobre
Fui criado na pobreza, cheio de incerteza
Vendo a riqueza na TV, mesmo sem saber por quê
Porque dinheiro não rende
E por que eu vou falando e ninguém entende?
A dúvida acende
(BIS)
A miséria já bateu na porta de casa
Tem que sobreviver pisando em ponta de brasa
Tudo acesa, sempre vivendo na pobreza
Sem poder escolher o que vai ter na mesa
Minha mãe apostando todas as fichas
Pra gente ter um prato digno com arroz e salsicha
Muitas vezes pensei em ir pro crime
E então eu rimo, antes que minha alma desanime
Pouca gente saberia
Como me sinto andando em bairro nobre, se sou da periferia
Os negos zoando, parceiros junto de manés
E eu longe, contando cada moeda de dez
Parece que isso tudo é só um jogo político
Às vezes, em casa, o bagulho é crítico
Dívida por dívida, e meu dinheiro some
Não é só de comida que a favela tem fome
Fui criado na pobreza, cheio de incerteza
Vendo a riqueza na TV, mesmo sem saber por quê
Porque dinheiro não rende
E por que eu vou falando e ninguém entende?
A dúvida acende
(BIS)
Eu rimo por necessidade, não por hobby
Pra esquecer um pouco dessa história de ser pobre
Mas eu vejo Itaipava na capa da revista
Enquanto ainda moro aqui no Bela Vista
Não aguento mais ver minha mãe trabalhar na semana
Se matando no emprego pra sustentar quem ela ama
Mas isso tudo vai mudar
Quando eu subir no palco e todo mundo gritar
O forro na sala, lotado de cupim
E eu escrevendo, pensando por que a vida é assim
Parado na rua, o olhar distante e triste
O corpo fraqueja, mas a alma resiste
Se tô de pé, é porque não perdi a fé
Vejo minha mãe na cozinha preparando o café
Sou só mais um neguinho da periferia
Que ainda confia Naquele que me protege e guia