Morava, sem muito luxo,
Quase na beira da sanga.
Era vizinha da tuna,
Do cardo e da japecanga.
E tinha por seu costume
Adoçar simples desejos,
Pois quando um homem passava,
Na boca lhe dava um beijo.
Tinha a pureza estampada
Sob o semblante do rosto...
E embora moça direita,
Muitos provaram seu gosto.
E, assim, passava seus dias,
Sempre de trás da cancela,
Dando o seu doce pra tantos,
Sem deixar de ser donzela.
E, assim, passava o aroma,
Seduzindo em cor tão bela...
Junto ao vívido vermelho,
Nas bordas do corpo dela.
Se espalhava pelo vento,
Embalada em seus perfumes,
Feitiço pra muitos tantos,
Principiando os ciúmes.
Lindeira, igual a tantas,
Num viver dependurada...
Esperando um moço certo
Que lhe colhesse adoçada.
Já lhe quiseram impura,
Com mistérios e artimanhas,
Já foi motivo de amores,
Afogada numa canha.
E, quando o inverno chegou,
Seu rancho virou tapera...
O doce se foi embora,
Deixando o amargo da espera.
E quem no inverno passou
E achou seu rancho tapera
– Não se preocupe, a pitanga
Voltará na primavera.