C H E I R O D E M A T O
João Négri
Meus caros amigos, pretendo voltar
Ao sertão querido onde fui criado
Rever a amoreira sombreando o quintal
E os passarinhos nos galhos pousados
Quero ver a aurora, de manhã cedinho
O sol vir surgindo por detrás dos montes
Exibindo raios bem avermelhados
Colorindo toda a barra do horizonte.
Recordo distante, rios e cascatas
Águas cristalinas onde me banhei
Lindas cachoeiras brilhando ao sol
Meninas bonitas, muitas namorei
Lindos arvoredos de ipês floridos
Animais selvagens e pombas-do-ar
Águas que brotavam em meio às pedras
A saracurinha, o melro e o sabiá.
Nas roças de arroz tinha tantas rolinhas
Voando formavam nuvens nas alturas
Os pássaros-pretos gorjeavam felizes
Os nambus ninhavam no capim-gordura
Nos pés de imbaúbas festavam sanhaços
Bicando as sementes das frutas maduras
Perdizes piavam nas roças de milho
De amendoim e de outras culturas.
Saudade é tormenta pro meu coração
Vivendo distante daquele lugar
Saí à procura de outras riquezas
Que o homem moderno almeja encontrar
Mas a natureza, sábia e soberana
Não abdicaria de um caboclo nato
Possuo riquezas (dinheiro e fama)
Mas sinto saudade do cheiro de mato.