Quando se viu pela primeira vez
Na tela escura de seu celular
Saiu de cena pra poder entrar
E aliviar a sua timidez
Vestiu um ego que não satisfez
Dramatizou o vil da rotina
Como fosse dádiva divina
Queria só um pouco de atenção
Mas encontrou a própria solidão
Ela era só uma menina
Amou daquela vez como se fosse máquina
Amou daquela vez como se fosse a última
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
E atravessou a rua com seu passo tímido
(Ti ti ti ti ti tímido)
Amanheceu tão logo se desfez
Se abriu nos olhos de um celular
Aliviou a tela ao entrar
Tirou de cena toda a timidez
Alimentou as redes de nudez
Fantasiou o brio da rotina
Fez de sua pele sua sina
Se estilhaçou em cacos virtuais
Nas aparências todos tão iguais
Singularidades em ruína
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo, num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
E tropeçou no céu como se ouvisse música
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Entrou no escuro de sua palidez
Estilhaçou seu corpo celular
Saiu de cena pra se aliviar
Vestiu o drama uma última vez
Se liquidou em sua liquidez
Viralizou no cio da ruína
Ela era só uma menina
Ninguém notou a sua depressão
Seguiu o bando a deslizar a mão
Para assegurar uma curtida