Saudade é o chicote no estalo da paixão
O peão aguentando o pulo no lombo do redomão
Igual uma mula brava batendo os cascos no chão
Troteando para todo o lado levantando o poeirão
Para segurar essa fera tem que ser um campeão
Não tem tropa nem boiada para tanto trabalho assim
Quando causa um reboliço é um mundaréu sem fim
Fogueira sem a fumaça, jardineira sem jardim
É 'cural' sem a canela, a rosa sem o jasmim
Sereno sem madrugada boêmio sem botequim
É abraço sem ter aperto, chegada sem ter parentes
É o céu sem as estrelas, terra fértil sem semente
O cãozinho esquecido, cabeleira sem o pente
Baleia sem oceano a fonte sem a vertente
O queijo sem goiabada inverno sem banho quente
É o vovô na varanda recordando seu passado
A boiada, o velho carro, é o carreiro aposentado
Em tempos de mocidade pra lida foi respeitado
Trás saudade do sertão dois pinhos bem duetados
Viver sem sentir saudade, é não querer ser amado