Não posso negar um fato
És um instrumento ingrato
Desde sempre é assim
Teu tamanho
Estas formas tão estranhas
Fazem-me viver façanhas
Pra levar-te junto a mim
Teve um dia
Antes de um show em Moema
Que foi o maior problema
Estar em tua companhia
Foi um polícia
Numa panificadora
Que viu uma metralhadora
No estojo que eu te trazia
Fui parar na Lapa
E só depois de muito tapa
Viram que eu era baixista
Certa vez
Tive que gastar fortunas
Me rompeste a coluna
E acabou em lombalgia
O destino
De todo contrabaixista
É o acupunturista
Ou a fisioterapia
Se eu pudesse
Te vendia na internet
E descolava um trompete
Ou virava um flautista
Mas contrabaixo é vício
Carregar-te nos meus ombros
Me cercar de tanto assombro
Pra seguir te executando
E ouvir os outros
Te chamando de violoncelo
Ou cavaquinho de Itu
Contrabaixo
Eu sei que tu não concordas
Mas vou pegar as tuas cordas
E acabar me enforcando