Eu sou a água dos rios nas veias da terra
A dar de beber a sedentas sementes
Eu sou a nascente, o cerrado e a serra
Eu sou o grito de dor madeira ferida
A relva, a selva, a seiva da vida
Peão Boiadeiro que o laço não erra
Eu sou o doce das frutas e a erva que amarga
O quarto de milha e o mangalarga
As águas revoltas são os prantos meus
Quem envenena meus mares, me queima e desmata
Me sangra sem pena aos poucos me mata
Não vê que eu sou espelho de Deus
Eu sou a natureza indefesa
Não me trate assim
Eu sou a Águia, a Baleia e o Angelim
Somo irmãos na Terra
Pedra, bicho, planta, gente enfim
Pra que essa vida viva
Cuida bem de mim
Eu sou o sol da manhã sobre minhas campinas
O frio das neves, as claras colinas
Os pássaros livres, a sombra que resta
Eu sou o bicho do mato, a flor pantaneira
Eu sou a savana, a serpente e a palmeira
O Cheiro do verde que vem da floresta
Sou cavaleiro do mundo eu sou a boiada
Eu sou o estradeiro e o pó da estrada
Sou a crença nos olhos dos homens ateus
Quem me devasta, me fere, me caça, me extingue
Me arranca as raízes não deixa que eu vingue
Não pode se ver no espelho de Deus