Eu que nasci, sem ouvir, sem chorar
Me torno um gelo, um polar, sem amor, sem vida
Anjo sem asa, com sono, viciado
Tempo sem nome, sem noite e sem um
Dia sem água, sem sol, sem vento
País só com fome, favela, dejeto
Meu futebol, só talento, moderno
Campos, comida, fome, concentração
Eu faço a minha parte
Não entendo nada disso
Vai continuar a mesma coisa
São todos iguais (Somos todos iguais)
Sinto planalto, tão longe, afastado
Manifestos, e-mail, não vejo sua cara
Aperta o botão do vidro do carro
Assiste a criança e o feio passar
Troca o canal, assiste o programa
Daquela história de dor ali na calçada
Eu vejo santos e super-heróis
Poderosos, morrendo num mundo moderno e carente
Eu faço a minha parte
Não entendo nada disso
Vai continuar a mesma coisa
São todos iguais (Somos todos iguais)
Passo na igreja e pesso pra Deus
Que me tire daqui, que me leve pro seu.
Mundo perfeito de anjos alados
Que gozam do vinho que traz alegria
Vejo o arranjo na mesa da sala
Fujo do ar que sufoca, atrapalha.
Quero correr vou pro meio da rua
Vejo a luz que brilha na Terra, mas não a Lua...