Abraço afetuoso em Álvarez de Azevedo
Este quarto está tão frio e eu não tenho aonde ir.
Não visto roupas limpas, pois, toda a sujeira está em mim
presa em minha alma, uma sujeira que não pode ser limpa.
As rugas em minha face revelam todas as mentiras que escondo.
Este fardo é tão pesado que já não posso me mover,
toda a minha humilhação me impede de agir
como botas de aço presas a meus pés me impedem de voar.
Eu juro, eu tentei fazer o meu melhor, mas fracassei.
Estes muros que me cercam me impedem de viver,
estou trancafiado dentro de toda minha vergonha,
pagando por todos os meus pecados vãos e impensados,
talvez eu mereça toda essa raiva do mundo, talvez eu mereça.
Se soubessem de todas as minhas frustrações
será que ainda caçoariam de mim?
Se soubessem de todos os meus tombos
será que continuariam a sorrir?
Depois de todos esses anos ainda continuo sendo a decepção,
os olhos com ar de deboche me fitam sem piedade
e eu mais uma vez me encontro sozinho sem ninguém
pra me proteger de todos esses dedos que me apontam.
Será assim para todo o sempre?
Estas dores nunca atenuaram?
Estas feridas sempre sangraram?