Primaveras
Nos meus cabelos lá se vão tons claros
Estão como um retrato esquecido ao sol
Fio perdido no meu travesseiro
Ainda ontem negro estava em meu lençol
Tua plantação, cultura de uva
Passas, teu caminho pelo meu jardim
O meu ouvido guarda o teu segredo
Tal fosse um brinquedo de estimação
Qual doce alívio pr’esse amargo medo
Que vez ou outra cisma com o meu coração
Tua plantação, cultura de uva
Passas, teu caminho pelo meu jardim
Sob meus dedos vão palavras brandas
E o peso do tempo sobre minhas mãos
Atravessaram muitas primaveras
Tantas cartas velhas de recordação
Tua plantação, cultura de uva
Passas, teu caminho pelo meu jardim
Aquela infância antes passageira
Volta companheira em minha solidão
Vou desfazendo o mundo em brincadeiras
Pintura dissolvida em outra solução
Tua plantação, cultura de uva
Passas, teu caminho pelo meu jardim
Tudo que é seco mora no passado
Projeto inacabado em decepção
Quarto vazio, hoje tão pequeno
Guardado na poeira desse meu sertão
Tua plantação, cultura de uva
Passas, teu caminho pelo meu jardim
Sem pedido de licença expõe teu arsenal
De gentileza e beleza até o fim