(“Segura aí Zé do Pinho
Que ocê vai vê comigo agora, caboclo! ”)
Pra cantá o desafio
Enfrento quem vir na frente
Faço verso de improviso
E com rima diferente
Mas pelo que estou vendo
Vai ser de pouco valor
Pois quem vejo em minha frente
É um pixote de cor
(“Pixote uma ova, sô! ”)
Pixote é gente pequena
E você não tem altura
E embora sendo branco
Não tem sequer compostura
E você falou de cor
Eu não sei por que razão
Seja preto ou seja branco
Tem que ter educação
(“Isso aí eu pego, eu quero vê! ”)
Eu sei disso, Zé do Pinho
Você disse uma verdade
Mas a educação que eu tenho
Você não tem a metade
Eu não sei por que diz isso
Com essa pose convencida
Pois o preto sempre apronta
Na entrada ou na saída
(“Isso é mentira, não é verdade! ”)
Cuidado aí Zé do Rancho
Para não dizer besteira
Se o preto tem seus erros
Branco também faz asneira
E além disso, não sou preto
Sou mulatinho queimado
E você que não tem cor
É um branco descorado
(“Que é isso, rapaz? ”)
Nunca fale assim de branco
Não esqueça o teu passado
Sob o comando de um branco
Foi um dia escravizado
Na senzala onde morava
Sofria barbaridade
Foi uma princesa branca
Quem te deu a liberdade
Essa conversa de escravo
É uma história muito antiga
Portando nesse momento
Precisa ser esquecida
Mas já que o assunto é cor
A branca sempre foi fraca
Pois é sobre o quadro-negro
Que o branco se destaca
(“Sai dessa agora! ”)
O branco é a cor da paz
Que todos desejam ter
E o preto é cor de luto
Que nos faz entristecer
E por você ser de cor
Eu lamento a sua sorte
É a cor do urubu
Que se alegra com a morte
Para que tanto exagero
Para se falar de cor?
Tratando de ser humano
Cada um tem seu valor
E se for falar de morte
O branco tem ligação
Pois o branco é cor de vela
Que velório é tradição
Vamos deixar coisas tristes
E falar do que interessa
Para derrubar você
Minha rima vem depressa
Pra falar de preto e branco
O preto não tá com nada
No lugar que é só pra branco
O preto não tem entrada
(“Isso é mentira! ”)
Você está muito por fora
Pois isso não é verdade
Pois o preto está integrado
Na alta sociedade
Hoje o preto é cor de honra
E vou dizer por que é
Pois o rei do futebol
É o nosso preto Pelé
(“Ah! sai dessa! ”)
Nisso eu estou de acordo
E te dou toda a razão
O nosso Pelé querido
É o orgulho da nação
Mas não se esqueça o Garrincha
Rivelino e outros mais
E você que é de cor
Me responda o que faz
(“Eu vou dizê já! ”)
Me admira essa pergunta
Se aqui estamos cantando
Sou profissional do disco
O Brasil tá me escutando
Embora cantando juntos
Estou sempre na dianteira
Sua voz é de segunda-feira
E a minha é de primeira
Viva, então, o preto e o branco
Que aqui se combinam bem
Nossa dupla é formada
Por preto e branco também
Essa nossa brincadeira
Foi um simples passatempo
Afinal preto no branco
É de fato documento
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)