Eu levo
Uma vidinha bem modesta
Se não posso fazer festa
Vou vivendo como der
Tem certos dias
Que não tenho nem tempero
E dá um certo desespero
Na coitada da mulher
Mas quando vejo
A tristeza e o desgosto
Estampado em seu rosto
Me revolta o coração
Aí então
Eu saio desesperado
Vou à vendinha do lado
E meto a cara num pingão
Meu Deus do céu
Como é triste meu calvário
A vidinha de operário
Que se esgota no suor
Tem certos dias
Que o desgosto chega a tanto
Que é preciso ser um santo
Pra não fazer o pior
Às vezes
Pra esquecer a desventura
Vou buscar a minha fuga
Num jogo de futebol
Mas no outro dia
Tudo volta ao que era antes
As notícias mais chocantes
E as trombadas nos faróis
Eu recomeço
A vidinha rotineira
E levo a semana inteira
Submisso ao vai e vem
Aí então
Quando chega no domingo
No pingão é que me vingo
E discorro meu desdém
Meu Deus do céu
Como é triste meu calvário
A vidinha de operário
Que se esgota no suor
Tem certos dias
Que o desgosto chega a tanto
Que é preciso ser um santo
Pra não fazer o pior