Nas minhas velhas manhãs de frio
Suando o vidro das velhas janelas do quarto
No tempo em que eu fazia com as próprias mãos
Caixas pretas de madeira pra engraxar e lustrar
E dividia com os meus irmãos
Os sonhos e as garotas e um velho blusão
As brigas e as surras, futebol e sermão
Bolas de gude e um velho jogo de botão
Eu nunca corri de uma briga que fosse
Eu nunca deixei de provar qualquer doce
E mesmo que eu tenha de cair pra vencer
Eu não vou pisar nas flores que eu ajudei a plantar
Eu estou em paz com Deus
É, talvez eu tenha feito coisas ruins
Que os bons santos não me levem a mal
Nem todo erro que se traz conservará um fim
E os meus erros eu perdôo, eu tive um ideal
Do meu pai eu aprendi o exercício de perseverar
Andando sempre em frente sem parar
E mesmo quando ouvir o sinal dos anos soar
Eu vou continuar em frente, sempre sem parar
Eu nunca corri de uma briga que fosse
Eu nunca deixei de provar qualquer doce
E mesmo que eu tenha de cair pra vencer
Eu não vou pisar nas flores que eu ajudei a plantar
Eu estou em paz com Deus
No fim das contas o meu filho vai saber
E me amar e respeitar e conseguir me entender
E os meus amigos também vão preservar no rosto
Os traços que eu guardei pra um dia mostrar
Depois de tanto tempo eu não perdi nenhum dos sonhos
Eu guardei cada pedaço e ainda vou alcançar
Meu velho sítio e um bom carro pra andar
O cheiro de um bom café e os netos no pomar
Eu nunca corri de uma briga que fosse
Eu nunca deixei de provar qualquer doce
E mesmo que eu tenha de cair pra vencer
Eu não vou pisar nas flores que eu ajudei a plantar
Eu estou em paz com Deus