Ela me passou o pão
Sentou do outro lado da mesa
Grudada, colada à cadeira
Manhã crescendo, café esfriando
A voz dela sumia
No barulho alegre do dia
Na confusa manhã de algazarra
A cabeça e o bule ferviam
Eu queira e nada
Eu preferia vê-la de longe
Sorrindo, feliz como pipa
Sentada no banco quadrado
Séria, olho baixo na missa
Eu pedia média e um pão
Na paz do pé sujo bebendo
Se ouvir dúvida ou um não
Arroz de festa, sabendo
Toque no escuro, toque que é quente
Toque de amigo, toque tesão
Toque de baixo, toque de fato
Toque no mato, toque ilusão
Toque que entorta, toque que embosca
Toque que é bosta, toque bundão
Troca de posto, troca de gosto
Toque no muro, toque pressão
Toque que entorta, toque que encosta
Toque que é bosta, toque bundão
Sem plano de vôo na sala
Olhando a imagem cansada
Conforto-chinelo-jornal
Tentando fugir da final
Puxando do bolso a nota
Da rota de fuga da língua
A unha passada do ponto
Conversa com gosto de íngua
Se a mentira vinga a desonra
Do cavalo que não toma a ponta
A conta no osso, a pele
O sorriso mais que amarelo
Se a foice não fere o martelo
A voz dela me bate na nuca
Cutuca
Pisando o tapete vermelho
Tentando sair da sinuca