Minha gaitinha lustrada com querosene
É o espelho das morenas nos bailongos do meu chão
Se retorcendo feito cobra mal matada
Numa chamarra aporreada de fazer afrouxar os garrão
No roça umbigo que até cocho se emparelha
Gaita e violão de cravelha não há mais crioulo par
De goela aberta como nanica assustada
Arrebanhando a pintalhada que um gavião vive a rondar
Finco-lhe os dedos como se fossem esporas
Mas como gaita não chora parece até gargalhar
Eu sem recurso e ela sobrando talento
Faz notas do próprio vento querendo me encabular
Fole encarnado como olho mal dormido
De algum peão adormecido que atrasou pro labutar
Mel de irapuã adoçando minhas penas
Que brotam das cantilenas desse meu xucro cantar
Minha gaitinha parceira de galponeadas
Encurtando as madrugadas de uma ronda sem luar
Até me lembra a mamangava impertinente
Que nos cochilos da gente não sossega de florear
Essa gaitinha que se espicha e que se encolhe
Em cada verga do fole guarda terra do meu chão
É alma viva do angüera retocando
No chão batido bailando com a gaitinha de botão!