Cai o véu, tremeluz além-céu
Uma d'alva estrela que ninguém viu
Ao redor giram os sonhos da manhã
A nostalgia aldebarã
Que o astrolábio não mediu
Com seu metal frio
Dobra o ar, entrevê-se o além-mar
Pela fresta aberta da saudade
Chegam lá todos os barcos e canais
As correntezas e os fanais da intuição
E a chuva oblíqua sobre o cais
É como haver outro porto por trás
Do coração
De onde a dor sai
E se lança no real
Nubla o sol meridional
Com lágrimas de Portugal
Oh, mar salgado, quanto em mim é sal
E quanto em ti é solidão!
Nosso fundo igual
Nos sagrou eterna comunhão
Além do céu tremeluz o chão