Se querem matar-me, matem-me já
Se querem matar-me é bom que matem me já
Eu tenho a mente engatilhada, carregada, pronta pra disparar
Eu sou a voz que calar já não dá
Aprisionada, sufocada, censurada que se quer libertar
Eu sou o pai que quando tenta sonhar
A humilhação do salário mínimo logo vem me acordar
Eu sou a mãe que sustenta o lar
Com um negócio que a polícia camarária vem e tenta roubar
Sou o polícia que tenta disfarçar
Mas não passo de um ladrão com licença para disparar
Duma situação em que não pedi para estar
Mas se o estado não me dá o meu salário tenho que ir buscar
Sou a estudante que apenas quer se formar
Mas o ensino superior ensina-me que há um preço a pagar
Prostituir-me para completar
O valor da propina antes do prazo do pagamento expirar
Sou o cidadão que pensa em protestar
Mas a força de intervenção rápida pode ripostar
Balas de ignorância que podem me custar
A vida que eu rezo todos os dias para melhorar
É natural
Todos têm um limite, até onde resiste o coração
Não, não faz mal
Lutar pra viver
Procurar uma solução
Enteado dessa pátria do Sa-mora Machel, Mondlane, Uria e Matsanga-isa
Desesperado sem lugar pra morar
Enquanto os condomínios de luxo estão se a multiplicar
Pago para receita tributária alargar
Mas do transporte que recebo em troca tenho que me apertar
Só o eleitor que não sabe em quem votar
Nos querem continuar ou nos que dizem que algo tem que mudar
Num país em que a verdade é uma pá
Quando dita cava fundo um buraco onde te vão enterrar
É por isso é que é melhor engraxar
É que se eu não puxo o saco, o meu tapete alguém há de puxar
Sou a flor que há-de sempre murchar
Porque vivo na rua e só a chuva é que me vem regar
A criança que ninguém quer amar
E no futuro o adulto que tu vais de certeza odiar
Sou o cidadão que pensa em protestar
Mas a força de intervenção rápida pode ripostar
Balas de ignorância que podem me custar
A vida que eu rezo todos dias para melhorar
É natural
Todos tem um limite até onde resiste o coração
Não, não faz mal (não faz!)
Lutar para viver
E procurar uma solução
Filhos da -, vocês vão ter que explicar
Como é que um país que não produz nada pode se sustentar
Até tomate o povo tem que importar
Porque políticos, têm tomates só para coçar
E a pobreza é assim que vai acabar?
Riqueza dividida entre os que a 30 anos estão a somar
E nós o povo quem é que nos vai guiar?
Pedem nos para poupar, com exemplos de como esbanjar
E a gente só se pode calar, AKM’s da PRM podem falar
É assim que sabem dialogar
Matam duas crianças inocentes antes de conversar
Académicos doutorados em escovar
Masturbação social até o patrão ejacular
Resultado: O país está a caminhar
Para o buraco da pobreza aplaudir, a sorrir e a dançar
É natural
Todos tem um limite até onde existe o coração
Não, não faz mal
Lutar para viver
E procurar uma solução
É natural
Todos tem um limite até onde resiste o coração
Não, não faz mal
Lutar para viver
E procurar uma solução
Uma solução
Uma solução
Uma solução
Traidor, traidora, impostor, impostora
Fomos todos traídos pela expectativa
Alcoolizados dementemente pela bebida
Vigiados de perto pelos dirigentes
Como esforço da economia, desenvolvente
Em épocas vitalícias da compra do presente
Do ganhador da promoção
De um falseado verão amarelo ou mais quente
Tudo para querer devolver a gente
Traiu-nos o bufo que fechou o olho, na hora do assalto
O professor que riscou a prova, por causa do salário
O motorista que desviou a rota
O balconista que atendeu mal
O vizinho que negou o sal
A violência que se vincou de pedra e cal
Na identidade de um povo que vai se habituando a não pensar
A não fazer, a não ter prazer
Naquilo que é com aquilo que tem
E naquilo que poderá vir a ser
Se descobrir o impostor que anda por aí