Se a verdade é mesmo nua
E a mentira alegoria
A arte veste tons de pele
De matéria fina e fria
Estão olhando para a foto
De tudo o que passou
É como o renascimento
Na gruta de Lascaux
Monet está desempregado
Impressionado com o mundo
Ele olha para o prado
Como um míope vagabundo
Como quem chora o fracasso
Meus olhos sangram Dali
Estou na frente de Picasso
E é como não estar ali
E eu, que nunca serei
Fadado ao esquecimento
Aguardo conhecer o rei
Que fez da arte um passatempo
Nos museus de todo lugar
Chegam turistas a Van Gogh
Mas os fauvistas avant-garde
Valem menos do que pó
O Mondrian foge da tela
Jesus Soto também viu
A Broadway da Venezuela
Com a Gego por um fio
Rembrandt fez autorretrato
E se desenha desenhando
A imortalidade é mesmo um fato
Para um pequeno bando
Se os insultos são pra calar
Pollock fala mas não diz
Que nem o Munch e o Basquiat
Gritavam mudos a Matisse
E eu, que nunca serei
Fadado ao esquecimento
Aguardo conhecer o rei
Que fez da arte um passatempo
E a fita tipo óculos
É o infinito para a Lygia
Já que levaram quatro séculos
Para por bigode em Monalisa
E Duchamp no urinol
Perguntou o que o Goeldi faz
Quando virou-se para o sol
Deixando as sombras para trás
Parti a testa na beirada
De uma moldura expressionista
E, com a cabeça liberada
Tudo era neoconcretista
A cor de Paul Klee, um dia
A Madi jogava fora
O Oiticica deixou virar mania
Ele a vestiu e a levou embora
E eu, que nunca serei
Fadado ao esquecimento
Aguardo conhecer o rei
Que fez da arte um passatempo
Falei pro Cildo Meireles
"O tempo é do pensamento"
E ele disse: "Filho, não ouça o que vem deles, Saque Ao Museu
Pra mim só existe o tempo"