Quarta feira de cinzas, amanhece,
Na cidade há um silencio que parece,
Que o próprio mundo se despovoou,
Um toque de clarim, além distante,
Vai levando consigo, agonizante,
O som do carnaval, que já passou,
E repetem-se as cenas de costume,
Cacos dispersos, de lança perfume,
Serpentina e confete, pelo chão,
É a máscara, que a vida jogou fóra,
Mostrando que a alegria foi-se embora,
Nos rastros da passagem da ilusão.
Minha vida também, durou três dias,
Alimentada pelas fantasias,
Recordação da minha vida inteira,
Um retrato, uma flor, uma aliança,
Na maior festa da minha esperança,
Que também teve a sua quarta feira,
Hoje, ante o silencio sepulcral,
Do despojos de mais um carnaval,
Confronte este cenário à minha dor,
O que ontem, pra mim foi iluminado,
Hoje são restos imortais do passado,
Cinzas, do carnaval do meu amor.