No meu bairro, sem pretensão
Tenho horrível reputação
Todos gritam quando eu me calo
E se escandalizam quando falo
E eu que não pensava que era pecado
Evitar a trilha onde anda o gado
Mas a gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Essa gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Todos me chamam de indecente
Tirando os mudos
Naturalmente
Quando enterram o presidente
Fico na minha cama quente
Que me importa se o rei morreu
Viva o palhaço e viva eu!
E eu que não pensava que era pecado
Ser indiferente a um engravatado
Mas a gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Essa gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Todos apontam pro indecente
Fora os manetas
Naturalmente
Se um garoto rouba um melão
E um rico grita “Pega ladrão”!
Não resisto e passo rasteira
E olha o doutor lambendo poeira!
E eu que não pensava que era pecado
Ajudar o menor abandonado
Mas a gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Essa gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Todos perseguem o indecente
Fora os pernetas
Naturalmente
Não preciso um mago Merlim
Pra saber qual será meu fim
No meu bairro à noite se escuta
“Lincha, lincha o filho da mãe!”
E eu que não pensava que era indecência
Seguir o caminho da consciência
Mas a gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Essa gente detesta quem
Não segue as ordens de ninguém
Todos verão meu funeral
Tirando os cegos
É natural!