Um disse que era do campo
Beira de mato ou de rio,
Tinha o seu sonho no asfalto
E o rancho quase vazio
O outro disse que tinha
Nas veias sonhos de mar
E que era o dono da estrada
No sonho do seu lugar
Um disse que era vencido
Tinha uma fome tardia
E já perdera na vila
O sonho da rebeldia
O outro disse que havia
na estrela d'Alva um luzeiro
E o sonho da liberdade
Pra quem chegasse primeiro
Quem perde a luz do seu sonho
Deixando a alma no escuro
Vivendo o avesso do espelho
De algum sonho sem futuro
O rio dos homens sem sonho
É rio de terra e de pó
Quem sonha o sonho sozinho
Constrói um mundo de um só
Um deles nada mais tinha
Nem a sombra do que era
Gastaram o sonho e a vida
Na longa fila da espera
O outro disse que um dia
Teve sonhos de guri
Mas que de tanto se sozinho
Plantou desertos em si
Um deles vinha de longe
Na busca antiga do pão
Deixando o sonho operário
Perdido de mão em mão
O outro viera antes
Correndo atrás da ilusão
De guardar sonhos na mala
Pra sonhar na solidão