Abre os olhos são seis da tarde
De um dia que já passou
Acordei dentro de um corpo dormente
Tão igual ao que se deitou
Hoje eu não sou
Transparente tão ausente
Já esqueci tudo o que lembrei
Hoje eu não sou
Quase nada alma apagada
E tenho tanto que ainda não dei
Saio de casa passo apressado
Mas não sei bem para onde vou
Sigo a calçada, mas está desfocada
Tanta gente que aqui já passou
Hoje eu não sou
Quase morto controlo remoto
Sou boneco à tua mercê
Hoje eu não sou
De joelhos bola de espelhos
Dá-me luz mas nunca me vê
Hoje eu não sou
Hoje eu não estou
Sou um fantasma de um desejo
Sou só uma boca sem teu beijo
Hoje eu não sou
Hoje eu não estou
Sou uma chaga sempre aberta
E o teu abraço só aperta onde eu não sou
Ponho dois pratos na mesa um retrato
Em que sorris para quem o tirou
Faço as perguntas dou as respostas
Tu já foste eu ainda aqui estou
Hoje eu não sou
Já deitado farol apagado
Quarto escuro não sei de quem
Hoje eu não sou
Uma prece só reconhece
A tua voz e a de mais ninguém
Hoje eu não sou
Hoje eu não estou
Sou um fantasma de um desejo
Sou só uma boca sem teu beijo
Hoje eu não sou
Hoje eu não estou
Sou uma chaga sempre aberta
E o teu abraço só aperta onde eu não sou
O teu abraço só aperta onde eu não estou
Onde estás
No escuro eu não te vejo
Tudo me faz
Lembrar de ti mas não te tenho