Quem paga essa droga
Quem bota na fita
A droga que embala
Essa vida bendita
Quem faz essa ponte
Quem serve de abrigo
Quem dorme ao relento
Quem teme o perigo?
Olhar entre aberto, semblante fechado
De perto ingênuo de longe malvado
Menino nascido e criado sem teto
Sem quatro paredes no frio do chão
Tem fome, tem sede, desejo concreto
Voltar a ser feto no ventre da mãe
Criança esperança, esperando uma chance
Um afogo, um carinho, um colo, uma infância
Não paga fiança não tem defensor
Na rua ele dança gemendo de dor
Pede resgate a seja quem for
Ele chega na porta ameaçador
Quem paga essa droga
Quem bota na fita
A droga que embala
Essa vida bendita
Quem faz essa ponte
Quem serve de abrigo
Quem dorme ao relento
Quem teme o perigo?
É sempre acusado, nasceu condenado
Arisco, arredio, moleque bolado
Já foi obrigado a ser humilhado
No beco "du guettu" onde foi desovado
Jogado ao relento com laço cortado
Morre culpado corpo e mente cremado
Na cova de esgoto indigente enterrado
Sem pista nem rastro
E caso encerrado
Caso encerrado, caso encerrado, caso encerrado
Quem paga essa droga
Quem bota na fita
A droga que embala
Essa vida bendita
Quem faz essa ponte
Quem serve de abrigo
Quem dorme ao relento
Quem teme o perigo?