Um helicóptero preto a poucos metros do chão.
Um barulho ensurdecedor de sirene, carro derrapando, arma sendo engatilhada...
Vidro estilhaçado, repórter e sangue, violência, ódio, dor, perda, sensação de impotência, frações de segundos, o céu ou o inferno. A solidão da sela, ou o carro zero...
A casa própria. A vitória é tentada de forma violenta, o sucesso dependente de um fracasso, de um caixão de um malote na mão, de uma fuga rápida, de um dia de sorte, Um Deus dividido por duas orações, uma vitima ajoelhada implora pela vida, o ladrão nervoso tremulo não quer algema da policia. A fome e a miséria mostram o fruto que a sociedade vai colher, sanguinário, raivoso, armado.
O moleque do pipa transformado no homicida que como animal faminto busca o cofre, como se fosse à presa morta ensangüentada, o carro preto e branco chega o homem bom, o homem da lei que só atira na cabeça de pobre, só da tapa na cara, só derruba porta de barraco, o filho da dona Maria qualquer da periferia.
Agora engrossa o número da estatística das tentativas frustradas, fracassadas de vitória na vida do crime. O filho da imigrante lavadeira sangra perto da porta giratória. Ninguém chora, risadas, alivio a cena de terror tem contorno de heroísmo e novela de final feliz.
O policial contente sopra o cano do seu revolver, mais no fundo no fundo, preocupado, pois sabe que amanhã ou depois o moleque esquecido no fundão da periferia, vai cansar de pedir esmola, de não ver comida na panela, de ver sua mãe só de camiseta furada, chinelo, chorando com seus irmãos famintos no colo. Vai arrumar um revolver, tentar resolver seus problemas através do sangue da cabeça de um gerente de banco, e vai ser mais um favelado no caixão preto, doado, sem flores e sem velório infelizmente a Marcha Fúnebre Prossegue.